23 agosto 2013

Foto - estória



Noite de estreia. Muitos que me acompanharam sabem que essa temporada é especial para mim. Não tenho mais temor do palco. Ele já faz parte da minha vida. Minha casa.

O que temo é o olhar crítico daquele velhinho sentado na primeira fila. Ele conhece cada centímetro do palco. Ele conhece todas as técnicas de se fazer gargalhar, de conduzir um público. Ele fez isso a vida toda.E faz bem.


 
Ele fez tão bem que criou discípulos por toda parte, até desconhecidos. Vê-lo na primeira fila me acompanhando em cada gesto me enche de orgulho e responsabilidade. Sei que no final ele virá me cumprimentar.
Hoje eu quero abraça-lo, dizer-lhe o quanto foi importante para mim, suas dicas, seus conselhos. Eu sou mais do que um discípulo dele. Eu sou seu filho.
Com os outros ele era o palhaço. Comigo, severo, crítico. Nunca entendi porque essa distância , mas ao agradecer o público no final, quero homenageá-lo porque afinal de contas, eu me espelhei nele. Pedi a um amigo que fotografasse esse instante.
Nossos passos, um em direção ao outro, parece que foram infinitos. Não vi ninguém e no atrevimento de palhaço, aproveitei para abraça-lo. Ele não compreendeu muito, mas não rejeitou. Isso já foi um avanço. “Obrigado, papai” sussurrei aos seus ouvidos no meio do aplauso da multidão!
Ele, pegando o microfone das minhas mãos, acalmou a multidão e disse: “Por muito tempo esperei por esse momento. Os aplausos que vem de vocês são importantes para um artista. É a cobertura do bolo, é a medalha do atleta, é a coroa do maratonista. Na corrida da vida o prêmio de um pai é o abraço de um filho! Abraço, ainda que seja de um palhaço!”



Estória escrita por Abel de Moraes